Um novo projeto de pesquisa:
A
cidade como arena de oportunidades: Etnografia das margens da cidade, estética
e partilha política do sensível
A construção das
margens e a partilha do sensível
A partir da pergunta: Quem reside hoje nas margens da
cidade? A pesquisa pretende-se aprofundar a compreensão das práticas e
estratégias dos moradores envolvidos em projetos significativos de mudança no
cotidiano, dentro e fora, do espaço de moradia. Vamos partir de uma
definição ampla das margens como situações que deixam de lado e até excluem
diversos sujeitos. As margens se constroem numa relação e numa tensão entre
formal/ informal, poderes/ contra poderes e entre reconhecimento e
negação. As margens urbanas devem ser
entendidas como uma construção espacial e social que permitem uma melhor
compreensão do desenvolvimento urbano. As margens fazem referências a outras
noções tais como, interstícios e fronteiras.
Trata-se de resgatar, na construção das margens urbanas, a
maneira como interlocutores 1) se definem do lugar, confrontando diversas
práticas que provocam interações diversas além da partilha de espaços e tempos,
2) enfrentam processos de mudança como a remoção. Esse processo envolve
muitas questões, que vão desde o enfrentamento entre o poder público municipal
e os moradores da comunidade a ser removido, a partir da resistência a deixar
suas casas, à perda da relação de vizinhança, à ruptura entre o homem e seu
habitat, seus referenciais sociais, espaciais e simbólicos, seu sentido de lugar.
As
práticas do cotidiano, as trajetórias de um lugar para outro são plurais, e
contam com habilidades mistas, envolvem os residentes em vários registros até
multiplicar iniciativas culturais, artísticas e outras. Assim no espaço urbano,
a memória, o risco, a violência se encontram até compor uma estética, uma
partilha política do sensível.
Conforme
Jacques Rancière (A partilha do sensível. Estética e política. São Paulo: Editora 34, 2005, p.15
)
, a “partilha” deve ser tanto interpretada como o compartilhamento
de algo comum (a cultura, os direitos civis, a liberdade) quanto como um “lugar
de disputas” por esse “comum” – disputas que, baseadas na diversidade das
atividades humanas, definem “competências ou incompetências” para a partilha. a
política não tem lugar próprio ou sujeitos pré-definidos, a política sempre
existe como desentendimento ou dissenso, nada é em si mesmo político, mas pode
tornar-se político à medida que opera sob a racionalidade dissensual. Na
política sempre entra em jogo questões de limites, fronteiras e margens.